domingo, 9 de agosto de 2009

Em todas as ruas te encontro


Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco

Mário Cesariny

4 comentários:

Anónimo disse...

Agora :

Ele é : Omnipotente.
Ele é : Omnividente.
Ele é : Omnipresente.

... ele é impossível de perder-se em qualquer rua.

... ele retirou dos nossos corpos o poder da transfiguração.

Mas o tempo tudo cura... o leite voltará a azedar... e os corpos a renascer.

Zé Camões disse...

Meu caro anónimo,

Tive todo o prazer em receber esta mensagem, vem visitar este espaço mais vezes.
Obrigado.

Anónimo disse...

É difícil revisitar-te quando me agradeces ...

Fico assim, como...não vale a pena... tu sabes... porque afinal somos membros do mesmo corpo, e seremos adubo da mesma terra...

E ... dói-me, dói-me muito, acredita; pensar, pensar sobretudo com estes olhos e ouvidos, no que se (não) vai passando por aqui...

Que silêncio neste campo... porque secarão , estas ervas, que ontem sorriam de verdura ?

Porquê ?

Serão mais felizes assim ?


Com este sol, é tudo tão mais nítido em Campo Maior .

Porque não conseguem (imos) ver ?

Zé Camões disse...

“Pode alguém ser que não é”

Feitos da mesma costela onde o teu véu seca a doce Maia e a esconde numa caixa de Pandora...

Da terra seca e infértil a chuva trará a vida no Outono, o Sol que a abrasou ficará escondido por breves momentos permitindo ao homem plantar o seu destino...

O silêncio é uma reflexão, uma pausa para colher as novas sementes... lança-as à terra, a sua resposta em breve se fará sentir, dobra o cabo das tormentas entre lágrimas resvaladiças, em breve os trovadores voltarão a cantar - sente o vento a brincar nos teus ouvidos, deixa que os olhos saboreiem este Agosto mais gelado que um Janeiro num qualquer ponto distante.

Procura, não te canses... Sê feliz como uma abelha, que de flor em flor procura gerar vida, o adeus que profetizas não poderá passar de um até logo...

Irás voltar por aqui, os teus passos ainda estão próximos, ouço-os, ouço-os ainda a andarem nessa vila...