segunda-feira, 16 de novembro de 2009

No céu...


(...) Para Barrow tudo era fascinante no corpo de Parker, o bronze e o perfume misturados, pareciam descarregados por uma garrafa de bom vinho, vermelho carnal e cheio de taninos aveludados por aquela luz escura de desejo.
A música que não tocava, soava bem alta na cabeça de cada amante, a Lua, protectora dos aventureiros, repousava já há algumas horas enquanto as almas se fodiam como se ao chegar a tarde o mundo fosse congelar (...)
- Quem és? Pergunta Barrow com receio e inquieto com a resposta
Levantou-se o mais longo silêncio. Nesse resto de manhã os dois já não falaram, o ligeiro fumo de dois cigarros apoderava-se do tecto daquela habitação como se uma nuvem negra e carregadinha de receio fosse cair (...)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Parker and Barrow


“ (…) Enquanto Parker dançava ao som de músicas de outro tempo, entre reflexos ofuscados de algum álcool que alimentava o corpo em movimento, Barrow contemplava-a por detrás do seu olhar verde de gato, ele era um jovem que se encontrava pela “Grande Babel” a gozar alguns dias de férias.
Naquela noite, entre copos e conversas Parker preferiu o casaco de cabedal ao blaser e numa conversa algo “etílica”, deixou que Barrow ficasse com o seu número de telemóvel.
Dias mais tarde, o café agendado foi realizado e na esplanada do Hotel Ritz lá se encontrar os dois, entre sorriso e cigarros, lá foram deixando a conversa surgir, Barrow tinha um sotaque do interior, difícil de entender mas para Parker impossível de resistir.
(…) Junto ao rio que cortava a paisagem em duas metades desniveladas, o Sol marcava no céu as onze horas, desesperado, ele olhava-a como quem espera algo mais de um amanhecer em qualquer ponto exótico (…)”

Rafael Dela Guetto in "América"

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Memórias Grotescas


“Lá vai o capitão da Nau com a barriga cheia, cuspindo os restos para o chão, na cabeça nada lhe vale para ocupar tal posição, o corpo enjeitado mais parece ter saído de um filme de terror os seus gestos broncos, no fundo do mar faziam mais falta que na terra dos humanos. (…)
Blasfema e ofende sem saber bem porquê nem a quem, mas ousados aqueles que se atravessem no meio da sua fúria.
No mar as ondas parecem crespar ainda mais esta grotesca personagem, nos nossos tempos apelidávamo-lo de Filho da Puta, talvez naqueles tempos também essa alcunha já lhe fosse atribuída pelos “ratos do porão”.
Oh pobre diabo! Qual o teu feito para teres ocupado tão elevada posição se a ventura nunca te benzeu, provavelmente nasceste bastardo e no vão da escada de uma tasca escura e suja, enquanto bêbados cantavam, a tua mãe metia no mundo a coisa mais bizarra (…). A farda reluzente fica ofuscada pelo sujo da tua alma, as mãos pesadas e lentas terão tocado mil punhetas para chegares ao cimo (…) perdeste entre outras coisas a memória da primeira vez que comeste com talheres, já não te recordas de seres um cão abandonado a bramir de porta em porta.”

Rafael Dela Guetto in "América"

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Antropologia de Luto

Claude Lévi-Strauss – 1908 – 2009
Dia de Luto para a antropologia.


A minha relação com o Senhor Strauss nem sempre foi a melhor, no entanto acabei por gostar dele e de algumas das suas teses, mas é inegável que o seu nome ficará para sempre na história das ciências sociais e em especial na nossa antropologia.
Até sempre...