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“Lá vai o capitão da Nau com a barriga cheia, cuspindo os restos para o chão, na cabeça nada lhe vale para ocupar tal posição, o corpo enjeitado mais parece ter saído de um filme de terror os seus gestos broncos, no fundo do mar faziam mais falta que na terra dos humanos. (…)
Blasfema e ofende sem saber bem porquê nem a quem, mas ousados aqueles que se atravessem no meio da sua fúria.
No mar as ondas parecem crespar ainda mais esta grotesca personagem, nos nossos tempos apelidávamo-lo de Filho da Puta, talvez naqueles tempos também essa alcunha já lhe fosse atribuída pelos “ratos do porão”.
Oh pobre diabo! Qual o teu feito para teres ocupado tão elevada posição se a ventura nunca te benzeu, provavelmente nasceste bastardo e no vão da escada de uma tasca escura e suja, enquanto bêbados cantavam, a tua mãe metia no mundo a coisa mais bizarra (…). A farda reluzente fica ofuscada pelo sujo da tua alma, as mãos pesadas e lentas terão tocado mil punhetas para chegares ao cimo (…) perdeste entre outras coisas a memória da primeira vez que comeste com talheres, já não te recordas de seres um cão abandonado a bramir de porta em porta.”
Rafael Dela Guetto in "América"
1 comentário:
Raiva...
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