sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Esquimós

O relato que vos apresento hoje toma contornos bizarro, mas ainda mais agravante é o facto deste relato incidir, numa pratica macabra, de uma tribo, considerada afável e gentil.
Ao longo dos séculos, as mais diversas sociedades organizaram-se em redor de várias crenças e várias leis, que as regem e orientam, nesse contexto, é estabelecido o que é bom e mau, correcto e incorrecto.
A prática que vos vou contar é ainda mais estranha aos olhos da nossa sociedade “ocidental”, mas temos de ter em conta que nós somos apenas o Homem Branco.
Nas sociedades primitivas, que estão espalhadas (cada vez menos) pelas mais diversas partes do mundo, a aceitação de pessoas com problemas físicos ou mentais varia imenso.
Temos sociedades que aceitam e acompanham os deficientes e idosos, dando-lhes carinho e atenção, auxiliando-os e tornando-lhe a vida mais digna e suportável.
No entanto, em contraste com a prática supra citada, podemos encontrar sociedades onde esse costume é completamente contra a sua cultura.
Numa longa lista de tribos que não ajudam os seus congéneres mais necessitados, assinalamos os esquimós. Relatos de missionários, que mantiveram contacto com esquimós, nomeadamente nos seculos XVII e XVIII, afirmam que estes abandonavam os membros da mesma espécie (com problemas), em locais onde sabiam que passavam ursos. O objectivo é alimentar os ursos e desfazerem-se do inconveniente, que era auxiliar uma pessoa necessitada. Segundo as suas crenças, os ursos deviam estar sempre bem alimentados, para poderem ter um pelo bonito e sedoso, só assim poderia proporcionar-lhes um bom agasalho para a intempérie.
É de facto um costume bastante estranho e ainda mais visto pelos nossos olhos, faz-nos lembrar o III Reich, onde a violação dos direitos humanos é levada ao extremo.
Pensem nisto e comentem.


Bom Fim-de-semana

8 comentários:

Três horas da manhã disse...

Já tinha ouvido falar desta situação, porém não dei muito crédito.

Existe por todo mundo muitas culturas e costumes, acredito que nem a globalização irá terminar com isso.

Existem situações positivas e negativas em todas as culturas, temos é que aprender as positivas e fazer deste mundo algo melhor.

O facto de deixarem as pessoas para trás, não será devido à dificuldade de se movimentarem naquele meio com as pessoas que possuem deficiências, isto em especial em pessoas com capacidade motoras deficitárias. será?

Cumprimentos
Cumprimentos

Zé Camões disse...

Não lhe sei dizer o porquê desse comportamento, mas em todos os comportamentos do ser humano, tanto quando age sozinho como quando age em grupo, têm um motivo.
É evidente que determinadas sociedades se ajustam consoante os recursos que encontram no local onde habitam, tomando depois costumes em volta desses recursos.
Não sei se o meu caro 3 da manhã teve oportunidade de ver o filme "A praia"? Se teve esse prazer, nem que não seja pelo cenário paradisíaco, irá lembrar-se de um indivíduo que foi atacado por um tubarão, este ficou doente e por sua vez tornou-se um estorvo, logo em condições adversas, acabou por ser deixado para morrer.
Na natureza há coisas que são fruto da evolução, mas todas essas situações são derivadas muitas vezes das condições presentes num determinado momento, mas que depois acabam por ser um óptimo mecanismo evolutivo e acabam mesmo por permanecer.

Anónimo disse...

Pois é amigo Zé Camões
vejamos a "coisa" pelo lado positivo, para essas tribos.
Terem que manter os ursos para lhes fornecerem agasalho, ou para vender as peles, ao fim e ao cabo, para quê enterrar o corpo se ele vai ser descoberto. Isso que o amigo diz são crenças ocidentais, mas, até já nós ocidentais estamos cremando os nossos ente queridos!!
É uma questão de cultura.
abraço

Henrik disse...

1.º ponto: Zé, há que apontar que as condições de sobrevivência dos esquimós são sobretudo diferentes das nossas. É isso suficiente para justificar os seus actos? Creio que não, mas é pelo menos demasiado parcial para ser criteriosamente objectivo. Imagine-se um hipotético sociólogo esquimó a visitar as nossas terras e a contemplar a enormidade de aberrações vindas do nosso lado, e quando falo de aberrações não falo de deficiências físicas ou mentais no sentido clínico do termo. Utilizamos carros que poluem o ambiente, matamos mais animais do que aqueles que necessitamos para consumir, utilizamos as suas peles não para nos proteger do frio mas por soberba. Utilizamos leis pois sem elas não haveria forma de punir rituais considerados 'inconvenientes'. O que está errado aqui?
Muita coisa diria o sociólogo esquimó.
2.º ponto: é um erro comum julgar que por institucionalizarmos os nossos ditos 'marginais' sejam deficientes ou criminosos ou de qualquer outra ordem os tratamos de forma mais digna. Na realidade, se considerarmos isso de forma crua a institucionalização desses seres humanos é uma forma social de os separar do resto da sociedade. Em suma é uma segregação que é comummente aceite como correcta. Não me parece no entanto que seja totalmente desprovida de preconceito e/ou seja por exemplo mais justa do que a prática esquimó. Em teoria é-lhes dada a hipótese de 'provar' a sua capacidade de sobrevivência. Como ocidental não posso aceitar a prática como preferível, pelos meus costumes pessoais. Porém, do ponto de vista estritamente lógico é totalmente compreensível a prática (note-se que não faço aqui nenhuma apologia da prática, antes de mais faço denotar que vemos as 'doenças' dos outros com olhos 'doentes' de alguém que se julga não doente - não me refiro a ti Zá mas à nossa sociedade e portanto à generalidade dos nossos povos - ).
Em Sociologia, que também estudei - e ainda estudo - e também em Antropologia este tipo de reacções aos rituais de povos alienígenas é conhecido por 'contaminação'. Contaminação é um dos termos (há outros) que explicam o 'perigo' de julgarmos os rituais dos outros esquecendo que os julgamos com os nossos rituais.
Um grande abraço.

Henrik disse...

=) Eu também me inclui no grupo dos preconceitos pois toda a gente os tem. Ainda mais interessante é o texto vindo de um futuro antropólogo =)

Henrik disse...

Só para esclarecer: não estava a 'corrigi-lo' (era o que faltava) mas a alargar aos comentários uma outra visão. Pois eu gosto de respeitar as opiniões dos outros, sobretudo as contrárias às minhas pois são essas que firmam e consolidam as de minha autoria. Mas não inferi que estivesse a 'maltratar' os costumes dos visados antes a fazer notar o seu hábito que é de facto bizarro para os padrões ocidentais. Mas, este tema nunca o conseguiríamos esgotar aqui, lol. Nem mesmo num café ou outros sítio qualquer...

Zé Camões disse...

Caro amigo henrik claro que existem preconceitos, aliás eles existem em tudo.
Era de facto surpreendente se a nossa super inteligente sociedade ultra moderna os não tivesse.
Por isso para efectuar o meu trabalho, claro, segundo os princípios clássicos, é importante despir-me da minha pele e ser eu mesmo o outro, só assim posso ver com os seus olhos.
Um abraço,tínhamos aqui conversa para um mês.

bela lugosi`s dead (F.JSAL) disse...

Olá boa noite, é uma forma de Darwinismo social, sem dúvida.Em relação ao que disse o três da manhã, é minha firme convicção que a globalização não produz homogeneidade, verifiquem-se como exemplos, os vários casos de reterritorialização proporcionados pela intensificação dos fluxos de pessoas, bens, imagens, etc. Territórios que acolhem, "reterritorializações" dos que chegam e recriam as suas culturas, adaptando-se a novas morfologias ambientais e sociais, criando algo de novo e não meramente transposto de forma intacta do país de origem, para o de acolhimento. Abraço