quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O bolo que não comi…

No outro dia quando me dirigia a casa de uma amiga, que por sinal mora numa das zonas mais ricas de Coimbra, onde se encontra a minha pastelaria favorita, aconteceu algo invulgar e ao mesmo tempo vulgar.
Enquanto os pavões vagueavam de um lado para o outro como se o mundo lhe devesse gratidão, as galinhas ficavam com o olhar regalado por cada montra que enxergavam, mas lá no escuro e indiferente aos ricos olhares estava um pequeno arrumador de carros.
Olhei para ele, não devia conhecer mais de cinco “Primas Veras” e desconfio que também conheceria mal a restante família. O seu olhar verde e o cabelo palha poderiam certamente fazer dele um descendente da fragmentada potência soviética, isso claro, se o seu português não fosse correcto e fluente como pude ouvir.
Encostei, não tinha trocos, mesmo que os tivesse não lhos daria…perguntei-lhe se gostava de chocolate, acedeu com a cabeça.
Quando voltei com o merecido vencimento, um bolo brigadeiro todo apetitoso, ele recebeu com gratidão, afinal de contas era o pagamento da sua jorna. Naquele momento apeteceu-me dar-lhe conselhos, falar e falar, mas preferi baixar os braços, afinal de contas não tinha palavras para alguém que trabalhava deste tão tenra idade.
Encostado a um poste de electricidade estava o seu patrão, o pai, que através de indicações lá ia chulando o pequenote, talvez este não trabalhasse porque padecia de alguma doença, quem sabe de preguiça crónica. Apeteceu-me esmurra-lo, denuncia-lo, mas para quê, se o contrato social estava a ser tão eficaz para eles, e aos olhos de ouro que ali se regozijavam até estava a funcionar.

5 comentários:

CampoMaiorense disse...

Amigo Zé, o problema é que quando ele for grande vai continuar a mesma "exploração" de pai para filho, a não ser, claro, que todos os "conscientes" acabassem por fazer o que o Sr. fez, dar de comer em vês do "euro".

o lavagante disse...

bem te percebo, passo pelo mesmo todos os dias no Campo Grande e há quase um sentimento de impotência face a situações destas..mas não devia ser assim, devíamos conseguir agir :P

Três horas da manhã disse...

Amigo Zé,

Existem na Espanha e na Itália (suponho que por cá também), redes que exploram as crianças.

As crianças são recrutadas, juntamente com familiares (estes que eu estou a falar são provenientes da Roménia, ou seja, ciganos) e são enviados para um localidade, vivendo normalmente em condições boas.

Depois são formados para pedir e para fazer "pequenos" furtos, tais como roubar carteiras ou assaltar as pessoas quando estão a levantar dinheiro no multibanco.

As crianças são durante o dia acompanhadas por pessoas adultas, que vão dando indicações e guardando o que a pequenada vai roubando.

Os patrões destas bandas são pessoas que na Roménia são extremamente ricas e influentes.

Sentados desde suas poltronas, explorando crianças enchem os bolsos à custa de inocentes crianças que são encorajadas pelos país.

É triste, mas é uma realidade!

Cumprimentos

Anónimo disse...

Quase perfeito...



Quando nos damos... não divulgamos.


... e não fora o “esmurra-lo” dar-te-ia um bom !


... mas mereces mais que um 10.


Obrigado.



Cumprimentos

agil disse...

O rendimento social de inserção devia precisamente por fim a estas coisas. Boas intenções enchem sacos.