sexta-feira, 27 de março de 2009

A queda de um gigante


A revista "Lancet", uma das mais conceituadas publicações médicas do mundo, acusou o Papa de ter distorcido as provas científicas sobre o uso dos preservativos, exigindo mesmo que Bento XVI se retracte das polémicas declarações proferidas durante a visita que fez a África na semana passada.Ao iniciar o périplo pelo continente africano, Bento XVI sustentara que a “tragédia [da sida] não pode ser vencida apenas com dinheiro, nem pode ser vencida com a distribuição de preservativos que podem até aumentar o problema”. Na edição de hoje, a revista "The Lancet", em editorial, denuncia que o Papa “distorceu publicamente os dados científicos com o propósito de promover a doutrina da Igreja sobre este assunto”.“Não é claro se o erro do Papa se deveu à ignorância ou a uma tentativa deliberada de manipular a ciência”, avaliava a publicação, acusando ainda o Vaticano de “tentar dar a volta às palavras do Papa, alterando ainda mais a verdade”.Por isso, a revista médica quer de Bento XVI uma correcção pública da polémica afirmação: “Quando uma pessoa com tal influência, seja uma figura religiosa ou política, faz uma declaração científica falsa que pode ter consequências devastadoras, deve retractar-se ou corrigir publicamente aquilo que foi dito. Menos do que isso vindo do Papa seria um péssimo serviço ao público".


Ao assistirmos a mais uma polémica em torno da igreja católica, pergunto-me se as coisas não poderiam ser bem diferentes, se a inflexível marca das leituras sagradas não poderia adaptar-se, tornar-se contemporânea e aceitar de vez a realidade dos “tempos modernos”.
Acredito que se a igreja católica quer manter-se viva por muito mais tempo, a solução não passará só pela opulência e pelo poderio económico, ela terá de aceitar outros factos e terá de reajustar as suas doutrinas, talvez assim conquistando, ou fazendo com que a fé e a crenças permaneçam nas pessoas.
Caso a sua inveterada postura prevaleça, as pessoas continuarão, sem dúvida, com a necessidade de crença, no entanto procurarão satisfazer essa necessidade noutros locais, o que para mim pode passar mais pela valorização do ser humano enquanto Homem.
As marcas correctoras e inibidoras da doutrina católica, nada mais são do que um condicionalismo que impede o homem de ser ele mesmo, privando-o de toda a liberdade enquanto ser vivo, resumindo a sua existência a uma morte em vida.
Desde modo e tendo em conta as diversas polémicas relativas à igreja católica, fica aqui o aviso, adaptem-se ou desapareçam.
Cumprimentos e bom fim-de-semana.

9 comentários:

João Pedro Neto disse...

"Desde modo e tendo em conta as diversas polémicas relativas à igreja católica, fica aqui o aviso, adaptem-se ou desapareçam.
Cumprimentos e bom fim-de-semana."

Quem fala assim não é gago!
Estou convicto que 2000 anos passados, com certeza que a Igreja Católica terá em conta o seu aviso e alterará em reunião de emergência convocada após leitura do seu texto!
Como católico só me resta agradecer a condescendência que revela ao avisar-nos a nós católicos. Quem nos avisa....

Anónimo disse...

Muito bem! Sem sectarismo, mas com muita clareza e com claros objectivos, aqui temos uma lúcida análise de um problema que tem tão graves implicações. A fé que é tão ciosa das suas razões que não admite interferências da ciência, também deve ser respeitadora das razões apresentadas pelo conhecimento científico. Até, porque à luz da doutrina cristã, a ciência deve ser entendida como uma extraorínária manifestação de Deus pois faz parte do poder da Sua Divina Criação.

Anónimo disse...

Apreciámos muito o seu "post", bem elaborado, fundamentado e coerente.
O assunto envolve alguma polémica mas pode ser tratado com a coerência e isenção que aqui usou com toda a propriedade. Se nos dedicássemos a estas coisas, como antes fes o Ó mê Belo Campomaiore", este seria post seria a nossa escolha para o mês de Março
A equipa de "De Campo Maior"

Zé Camões disse...

Meu caro João Neto.

Fico feliz por ter visitado este local, igualmente satisfeito fico com o seu comentário apesar de discordar.
Nem eu esperava que os dois mil anos de prepotência, arrogância e inquisição por parte da igreja me dessem ouvidos, isto é o que é, uma análise minha livre e sujeita aos meus critérios. Tem todo o direito a discordar, foi com esse propósito que eu criei este espaço. Seja católico, muçulmano ou hindu, o senhor não deixa de ser homem e só esse facto deixa-me satisfeito, porque o senhor escolhe sempre o seu caminho, se o seu caminho é ser uma das ovelhas do rebanho Senhor, então que seja, desejo-lhe felicidades.

Anónimo disse...

Desculpe a minha sinceridade mas o senhor que esteve tão bem no "post"
já toma uma posição demasiado agressiva no comentário de resposta a JPN. Não adiantam tais discussões que em nada aproximam e só nos afastam e separam em fossos intransponíveis.
A cada um sua fé ou sua razão, conforme a opção que foi livremente assumida.

Zé Camões disse...

Meu caro,
Em nada visava tornar-me agressivo, apenas reforcei a minha posição e nem por isso deixei de respeitar a sua. Acho que esta sua visita, apesar da discordância relativamente ao tema, só nos aproxima; eu ainda não tive tempo mas acredite que com mais calma vou aos seus blogs dar-lhe algumas opiniões.
Os meus cumprimentos e não deixe de frequentar este espaço.
Cumprimentos e bom fim-de-semana.

Zé Camões disse...

Sr.Agóstico confundi-me na resposta, não reparei no seu nick, desculpe.
Eu só reforcei a minha posição, nada mais.
Mas se alguem achar que fui - As minhas desculpas.

João Pedro disse...

O que eu gostava de saber é onde vê "dois mil anos de prepotência, arrogância e inquisição2, sobretudo tendo em conta que esta última existiu entre os Secs XV e XIX, e no fim sem os poderes penais que antes tinha.

A Igreja não tem de se "adaptar" se tal não fizer parte do seu código genético ou dos seus princípios fundamentais; mudará naquilo que entender ser de proveniência divina, mas não só porque está na moda ou pertence "ao Séc. XXI".

"A fé que é tão ciosa das suas razões que não admite interferências da ciência, também deve ser respeitadora das razões apresentadas pelo conhecimento científico"

Parece-me que aqui, quem está a desrespeitar as razões da Igreja é alguma comunidade científica, quando pede retractação. E se fosse o contrário, o que não se diria?

Zé Camões disse...

Sr. J. Neto.
Por isso mesmo podemos estar sujeitos à nossa livre vontade, assim o “Deus do Céu” não determina o nosso desejo, isso faz-me sentir livre e feliz, tal como me enche o peito de individualidade e aleatoriedade.
No entanto não ouço o blá,blá,blá secular dos homens que profanam a palavra divina ao quererem tão sabiamente reproduzi-la na terra, eis a grande e maior mentira de todas, qualquer Deus todo poderoso não necessita de marionetas que o representem, ele é presente em cada um de nós.
Cumprimentos.