quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Balada da Neve


Como tenho a certeza que muitos de vocês gostam deste poema, mas não sabem quem é o seu autor, aqui vai: “Balada da Neve” de Augusto Gil.




BALADA DA NEVE
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?

Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria... .

Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos, depois,
em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim,
fica em mim presa.
Cai neve na Natureza .
e cai no meu coração.
Augusto Gil

6 comentários:

Júlia Galego disse...

Este poema recorda-me o livro de leitura de um qualquer ano da instrução primária. Era lido e relido e até servia de exercício para treinar a memória e a expressividade quando era dito.

Três horas da manhã disse...

:) gostei muito! É bom ler este poema! Conheço uma pessoa a qual admiro que o sabia todo...infelizmente nunca mais o disse...

Joaquim Candeias disse...

Pois é, alguma coisa me suou aos ouvidos, e por ver a D. Julia falar no livro de leitura, fui ver e era dai que me soava alguma coisa à muito escondida num cantinho cá do meu cerebro

Quem bate assim levemente
Com tão estranha levesza
Que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente
Nem é vento de certeza.

O meu - Livro de leitura da 3.º classe
4.º edição 1958 com o numero 220692

Porto Editora

Anónimo disse...

Sim realmente este poema tras-nos á memória os anos de escola, foi reamente um dos que me ficou, pela sua beleza.

Anónimo disse...

Que lindo poema fez-me recordar os meus tempos de escola, que saudade desses tempos maravilhos que nunca esqueci...
Sabe ainda hoje sei esse poema de cor.

Obrigado por me fazer recordar momentos vividos mas nunca esquecidos.

Um abraço felicidades para voçê

Zé Camões disse...

"Ultimo" anónimo fico feliz em tê-lo feito viajar no tempo : ))
Felicidades também para si.